quinta-feira, 22 de abril de 2010

Estudiosos explicam o cyberbullyng

Para o professor de Psicologia e doutor em Educação, Herculano Campos, o problema do bullying é que ele se confunde freqüentemente com brincadeiras, e a fronteira entre uma brincadeira e uma agressão, nesse caso, é tênue.

Ele, que coordena uma tese de mestrado sobre o bullying, afirma que ainda há pouca consciência tanto dos educadores, quanto da sociedade em geral sobre o significado dele.

Segundo a mestranda responsável pela tese, Samia Jorge, o que caracteriza o bullying é a perseguição, a repetição e a intencionalidade da agressão, além do constrangimento da vítima.

De acordo com ela, que já atendeu uma adolescente que havia sido vítima de violência moral na internet, as conseqüências desse tipo de agressão vão desde o risco de depressão e reclusão da vítima, que passa a desconfiar de todos e se privar do convívio social; passando por distúrbios psicossomáticos (doenças físicas que refletem um sofrimento psicológico muito grande), humilhação e vergonha; chegando até mesmo ao suicídio.
Nos Estados Unidos, por exemplo, uma garota se envolveu com uma pessoa pela internet que depois de ter criado um vínculo emocional, passou a humilhar e a desconsiderá-la.

Dias depois a mãe a encontrou morta e descobriu-se que o agressor tratava-se de uma vizinha, que se defendeu dizendo que era apenas uma ‘brincadeira’.

Os motivos que levam uma pessoa a agredir outra são os mais diversos. “Quando investigamos o agressor, geralmente percebemos que o problema está dentro de casa, com a família, e é levado para todos os outros ambientes”, esclarece.

Para as vítimas, como o jornalista Edwin Carvalho e a arquiteta Laura Viana*, geralmente o motivo está vinculado à inveja. “São pessoas com falha de caráter”, considera Carvalho. “Acho que deve ser algum problema interior que a pessoa tem e o sucesso do outro acaba evidenciando isso”, complementa a arquiteta.

A maior dificuldade, na avaliação do professor, está na falta de caracterização legal da questão. “Enquanto não há definição do problema jurídico, fica difícil investigar.” Mas há sim como denunciar na justiça e, conforme explica a psicóloga, ignorar o problema e ‘fingir’ ser indiferente a ele, só piora a situação.
Referência: http://www.nominuto.com/noticias/cidades/estudiosos-explicam-o-cyberbullyng/16602/

Cyberbullying

O cyberbullying é um tipo de bullying melhorado. É a prática realizada através da internet que busca humilhar e ridicularizar os alunos, pessoas desconhecidas e também professores perante a sociedade virtual. Apesar de ser praticado de forma virtual, o cyberbullying tem preocupado pais e professores, pois através da internet os insultos se multiplicam rapidamente e ainda contribuem para contaminar outras pessoas que conheçem a vítima.

Os meios virtuais utilizados para disseminar difamações e calúnias são as comunidades, e-mails, torpedos, blogs e fotologs. Além de discriminar as pessoas, os autores são incapazes de se identificar, pois não são responsáveis o bastante para assumirem aquilo que fazem. É importante dizer que mesmo anônimos, os responsáveis pela calúnia sempre são descobertos.

Infelizmente os meios tecnológicos que, a priori, seriam para melhorar e facilitar a vida das pessoas em todas as áreas estão sendo utilizados para menosprezar e insultar outras pessoas. Não existe um tipo de pessoa específica para ser motivo de insultos, sendo que a invasão do e-mail ou a exposição de uma foto já é o bastante. Em relação a colegas de escola e professores, as difamações são intencionadas e visam mexer com o psicológico da pessoa, deixando-a abatida e desmoralizada perante os demais.

As pessoas que praticam o cyberbullying são normalmente adolescentes sem limites, insensíveis, insensatos, inconseqüentes e empáticos. Apesar de gostarem da sensação que é causada ao destruir outra pessoa, os praticantes podem ser processados por calúnia e difamação, sendo obrigados a disponibilizar uma considerável indenização.

Referencia: Por Gabriela Cabral, Equipe Brasil Escola.

disponível em: http://www.brasilescola.com/sociologia/cyberbullying.htm

sexta-feira, 9 de abril de 2010

Educação não tem cor

Com discussões e projetos bem elaborados, é possível combater o preconceito racial que existe, sim, na escola. Está nas suas mãos, professor, o sucesso dessas crianças, negras e brancas, como alunas e cidadãs
Roseane Souza de Queirós, 8 anos, tem os cabelos lisos e claros, mas queria que eles fossem trançados e escuros como os da colega de sala de aula Juliana Francisca de Souza Claudino, uma garota negra também de 8 anos. Um dia, apareceu com o mesmo penteado afro. A atitude de Roseane surpreende. É muito, muito mais comum a criança negra desejar se parecer com a maioria dos heróis dos contos de fadas europeus, com as modelos estampadas em revistas e jornais e com os colegas que recebem maior atenção em sala, todos brancos e loiros. As duas meninas participam sistematicamente de discussões e projetos anti-racistas na Escola Classe 16, no Gama (DF). O desejo de Roseane é um exemplo concreto de que é possível combater na escola preconceitos e estereótipos enraizados.
E prova, de acordo com especialistas, que uma das saídas para o fim das desigualdades educacionais do Brasil está em enfrentar as desigualdades raciais que estão presentes, sim, no ambiente escolar. Quer ver como? A começar pelo currículo. A história e a cultura negras têm pouco ou nenhum destaque, diferentemente da cultura européia. Em um país com 44% de população afro-descendente, quantas pessoas conhecem a rainha Nzinga, líder da libertação do reino africano Ndongo em 1660, ou Dandara, guerreira do Quilombo dos Palmares, ao lado de Zumbi? Outro dado: a participação das crianças negras na última série do Ensino Médio representa a metade da registrada na 4ª série. Já os brancos somam 44% dos alunos da 4ª série, mas totalizam 76% na 3ª série do Ensino Médio. Mais: a escolaridade média de um negro com 25 anos gira em torno de 6,1 anos. Um branco da mesma idade tem cerca de 8,4 anos de estudo. Dessa maneira, é possível concluir que crianças negras, como Juliana, enfrentam muitos obstáculos para permanecer na escola. E, sem dúvida, está nas mãos dos professores o futuro delas como alunas e cidadãs, defensoras de seus direitos. Portanto, eis uma demanda urgente para você: ampliar a discussão e os projetos pedagógicos que privilegiem a igualdade racial. Desde maio, com a aprovação da Lei nº 10.639, é obrigatório o ensino de história da África e da cultura afro-brasileira em todas as escolas de Ensino Fundamental e Médio. Para ajudá-lo a se adequar, mostramos os principais erros e acertos sobre as questões raciais e projetos pedagógicos que valem como inspiração para trabalhar o assunto em novembro, mês de comemoração da consciência negra, e durante o ano todo. Passado e presente de discriminação Uma boa medida para entender o impacto do preconceito e da discriminação na vida escolar é analisar a biografia de professores negros. Quem é a professora de Juliana e Roseane, que conseguiu ampliar padrões de beleza na sala de aula? Marizeth Ribeiro da Costa de Miranda, 39 anos, escolheu a profissão movida por suas experiências pessoais de racismo na escola e fora dela. Dois momentos são extremamente marcantes na trajetória de estudante de Marizeth: um passeio de coleira pelos corredores da escola (um colega quis reproduzir uma imagem de escravos mostrada no livro de História) e o tapa que levou de uma professora, quando conversava com uma colega branca na sala de aula. Somente Marizeth foi repreendida. "Precisei de muita força para não desistir dos estudos. Mas segui minha vida escolar calada", afirma. O silêncio é uma constante nas relações raciais. De forma consciente, como fez Marizeth, ou inconsciente, como agem os que não sabem lidar com o assunto. Desse modo, tornou-se natural tratar a história do negro apenas na perspectiva da escravidão e aceitar padrões estéticos e culturais de uma suposta superioridade branca. Sobre isso, disse o líder negro americano Martin Luther King (1929-1968): "Temos de nos arrepender nessa geração não tanto pelas más ações das pessoas más, mas pelo silêncio assustador das pessoas boas". O relato de vida de professores negros foi tema de um estudo da Universidade Federal de Minas Gerais. As histórias que fazem parte da pesquisa se confundem em muitos pontos. Apelidos, xingamentos e discriminações são experiências vividas por todos os entrevistados. "Todos deixaram por algum período a escola, seja por problemas financeiros, seja por falta de motivação. As singularidades estão expressas na forma como cada um reagiu ao preconceito e à discriminação racial e nos processos pelos quais, gradativamente, chegaram a perceber a condição do negro no Brasil", conta Patrícia Santana, professora responsável pela pesquisa.

Referência: Revista Escola, disponível em: http://revistaescola.abril.com.br/politicas-publicas/legislacao/educacao-nao-tem-cor-425486.shtml

Diversidade sempre, desde a Educação Infantil

Valorizar diferentes raças e gêneros e pessoas com deficiência é trabalho para todo dia. Materiais adequados são um bom aliado nessa tarefa

Preconceitos, rótulos, discriminação. É inevitável: desde muito cedo, os pequenos entram em contato com esses discursos negativos. Para que eles saibam lidar com a diferença com sensibilidade e equilíbrio, é preciso que tenham familiaridade com a diversidade - e não apenas em projetos com duração definida ou em datas comemorativas, como ainda é habitual em vários lugares. Outra recomendação importante é que a questão não seja tratada como um conteúdo específico (o que invalida propostas do tipo "bom, turminha, agora vamos todos entender por que é importante respeitar as diferenças").Melhor que isso é abordar o tema de jeito natural, inserindo-o em práticas diárias, como brincadeiras, leitura e música. "O convívio cotidiano é a forma mais eficaz de trabalhar comportamentos e atitudes", diz Daniela Alonso, psicopedagoga e selecionadora do Prêmio Victor Civita - Educador Nota 10.
Para conseguir isso, uma providência essencial é adquirir materiais didáticos que valorizem as diferentes raças, pessoas com deficiências físicas e mental e mostrem meninos e meninas em posição de igualdade. Ao comprar instrumentos musicais, contemple os de diversas culturas. No caso de brinquedos como bonecas, já existem lojas que se preocupam especialmente em privilegiar a diversidade. A compra de livros pode ser mais difícil: uma pesquisa da Fundação Carlos Chagas que analisou 33 obras de Língua Portuguesa só encontrou duas meninas não brancas nas ilustrações. Entretanto, a busca criteriosa e a leitura prévia costumam resolver o problema. Se a turma já estiver em fase de alfabetização, o Guia Nacional de Livros Didáticos, do Ministério da Educação, é a melhor referência - ele garante que as obras recomendadas não contêm situações de discriminação. Não se pode esquecer que os pequenos aprendem com o exemplo dos adultos. Pensando nisso, a direção da EMEI Aricanduva, em São Paulo, capacitou a equipe para lidar com a diversidade. Antes, só algumas professoras trabalhavam a questão, por meio de projetos específicos. Hoje a diversidade é contemplada em todo o currículo. "Um resultado prático é que, agora, crianças negras que se retratavam como brancas nos desenhos passaram a usar lápis marrom e preto", comemora a coordenadora Cleide Andrade Silva.
Para conseguir isso, uma providência essencial é adquirir materiais didáticos que valorizem as diferentes raças, pessoas com deficiências físicas e mental e mostrem meninos e meninas em posição de igualdade. Ao comprar instrumentos musicais, contemple os de diversas culturas. No caso de brinquedos como bonecas, já existem lojas que se preocupam especialmente em privilegiar a diversidade. A compra de livros pode ser mais difícil: uma pesquisa da Fundação Carlos Chagas que analisou 33 obras de Língua Portuguesa só encontrou duas meninas não brancas nas ilustrações. Entretanto, a busca criteriosa e a leitura prévia costumam resolver o problema. Se a turma já estiver em fase de alfabetização, o Guia Nacional de Livros Didáticos, do Ministério da Educação, é a melhor referência - ele garante que as obras recomendadas não contêm situações de discriminação. Não se pode esquecer que os pequenos aprendem com o exemplo dos adultos. Pensando nisso, a direção da EMEI Aricanduva, em São Paulo, capacitou a equipe para lidar com a diversidade. Antes, só algumas professoras trabalhavam a questão, por meio de projetos específicos. Hoje a diversidade é contemplada em todo o currículo. "Um resultado prático é que, agora, crianças negras que se retratavam como brancas nos desenhos passaram a usar lápis marrom e preto", comemora a coordenadora Cleide Andrade Silva.

quarta-feira, 31 de março de 2010

A importância da família no processo de educar


A mim me dá pena e preocupação quando convivo com famílias que experimentam a “tirania da liberdade” em que as crianças podem tudo: gritam, riscam as paredes, ameaçam as visitas em face da autoridade complacente dos pais que se pensam ainda campeões da liberdade. (PAULO FREIRE, 2000: 29)

A sociedade moderna vive uma crise de valores éticos e morais sem precedentes. Essa é uma constatação que nada tem de original, pois todos a estão percebendo e vivenciando de alguma maneira. O fato de ser uma professora a fazer essa constatação também não é nenhuma surpresa, pois é na escola que essa crise acaba, muitas vezes, ficando em maior evidência.
Nunca na escola se discutiu tanto quanto hoje assuntos como falta de limites, desrespeito na sala de aula e desmotivação dos alunos. Nunca se observou tantos professores cansados, estressados e, muitas vezes, doentes física e mentalmente. Nunca os sentimentos de impotência e frustração estiveram tão marcantemente presentes na vida escolar.
Para Esteve (1999), toda essa situação tem relação com uma acelerada mudança no contexto social. Segundo ele,
Nosso sistema educacional, rapidamente massificado nas últimas décadas, ainda não dispõe de uma capacidade de reação para atender às novas demandas sociais. Quando consegue atender a uma exigência reivindicada imperativamente pela sociedade, o faz com tanta lentidão que, então, as demandas sociais já são outras (1999: 13).
Por essa razão, dentro das escolas as discussões que procuram compreender esse quadro tão complexo e, muitas vezes, caótico, no qual a educação se encontra mergulhada, são cada vez mais freqüentes. Professores debatem formas de tentar superar todas essas dificuldades e conflitos, pois percebem que se nada for feito em breve não se conseguirá mais ensinar e educar. Entretanto, observa-se que, até o momento, essas discussões vêm sendo realizadas apenas dentro do âmbito da escola, basicamente envolvendo direções, coordenações e grupos de professores. Em outras palavras, a escola vem, gradativamente, assumindo a maior parte da responsabilidade pelas situações de conflito que nela são observadas.
Assim, procura-se em novas metodologias de trabalho, por exemplo, as soluções para esses problemas. Computadores e programas de última geração, projetos multi e interdisciplinares de todos os tipos e para todos os gostos, avaliações participativas, enfim uma infinidade de propostas e atividades visando a, principalmente, atrair os alunos para os bancos escolares. Não é mais suficiente a idéia de uma escola na qual o individuo ingressa para aprender e conhecer. Agora a escola deve também entreter.
No entanto, apesar das diferentes metodologias hoje utilizadas, os problemas continuam, ou melhor, se agravam cada vez mais, pois além do conhecimento em si estar sendo comprometido irremediavelmente, os aspectos comportamentais não têm melhorado. Ao contrário. Em sala de aula, a indisciplina e a falta de respeito só têm aumentado, obrigando os professores a, muitas vezes, assumir atitudes autoritárias e disciplinadoras. Para ensinar o mínimo, está sendo necessário, antes de tudo, disciplinar, impor limites e, principalmente, dizer não.
A questão que se impõem é: até quando a escola sozinha conseguirá levar adiante essa tarefa? Ou melhor, até quando a escola vai continuar assumindo isoladamente a responsabilidade de educar?
São questões que merecem, por parte de todos os envolvidos, uma reflexão, não só mais profunda, mas também mais crítica. É, portanto, necessário refletir sobre os papéis que devem desempenhar nesse processo a escola e, conseqüentemente, os professores, mas também não se pode continuar ignorando a importância fundamental da família na formação e educação de crianças e adolescentes.
Voltando a analisar a sociedade moderna, observa-se que uma das mudanças mais significativas é a forma como a família atualmente se encontra estruturada. Aquela família tradicional, constituída de pai, mãe e filhos tornou-se uma raridade. Atualmente, existem famílias dentro de famílias. Com as separações e os novos casamentos, aquele núcleo familiar mais tradicional tem dado lugar a diferentes famílias vivendo sob o mesmo teto. Esses novos contextos familiares geram, muitas vezes, uma sensação de insegurança e até mesmo de abandono, pois a idéia de um pai e de uma mãe cuidadores dá lugar a diferentes pais e mães “gerenciadores” de filhos que nem sempre são seus.
Além disso, essa mesma sociedade tem exigido, por diferentes motivos, que pais e mães assumam posições cada vez mais competitivas no mercado de trabalho. Então, enquanto que, antigamente, as funções exercidas dentro da família eram bem definidas, hoje pai e mãe, além de assumirem diferentes papéis, conforme as circunstâncias saem todos os dias para suas atividades profissionais. Assim, observa-se que, em muitos casos, crianças e adolescentes acabam ficando aos cuidados de parentes (avós, tios), estranhos (empregados) ou das chamadas babás eletrônicas, como a TV e a Internet, vendo seus pais somente à noite.
Toda essa situação acaba gerando uma série de sentimentos conflitantes, não só entre pais e filhos, mas também entre os próprios pais. E um dos sentimentos mais comuns entre estes é o de culpa. É ela que, na maioria das vezes, impede um pai ou uma mãe de dizer não às exigências de seus filhos. É ela que faz um pai dar a seu filho tudo o que ele deseja, pensando que assim poderá compensar a sua ausência. É a culpa que faz uma mãe não avaliar corretamente as atitudes de seu filho, pois isso poderá significar que ela não esteve suficientemente presente para corrigi-las.
Enfim, é a culpa de não estar presente de forma efetiva e construtiva na vida de seus filhos que faz, muitas vezes, um pai ou uma mãe ignorarem o que se passa com eles. Assim, muitos pais e mães acabam tornando-se reféns de seus próprios filhos. Com receio de contrariá-los, reforçam atitudes inadequadas e, com isso, prejudicam o seu desenvolvimento, não só intelectual, mas também, mental e emocional.
Esses conflitos acabam agravando-se quando a escola tenta intervir. Ocorre que muitos pais, por todos os problemas já citados, delegam responsabilidades à escola, mas não aceitam com tranqüilidade quando essa mesma escola exerce o papel que deveria ser deles. Em outras palavras,
[...] os pais que não têm condições emocionais de suportar a sua parcela de responsabilidade, ou culpa, pelo mau rendimento escolar, ou algum transtorno de conduta do filho, farão de tudo, para encontrar argumentos e pinçar fatos, a fim de imputar aos professores que reprovaram o aluno, ou à escola como um todo, a total responsabilidade pelo fracasso do filho (ZIMERMAN apud BOSSOLS, 2003: 14).
Assim, observa-se que, em muitos casos a escola (e seus professores) acaba sendo sistematicamente desautorizada quando, na tentativa de educar, procura estabelecer limites e responsabilidades. O resultado desses sucessivos embates é que essas crianças e adolescentes acabam tornando-se testemunhas de um absurdo e infrutífero cabo-de-guerra, entre a sua escola e a sua família. E a situação pode assumir uma maior complexidade porque, conforme também explica Zimerman, “o próprio aluno, que não suporte reconhecer a responsabilidade por suas falhas, fará um sutil jogo de intrigas que predisponha os pais contra os professores e a escola” (apud BOSSOLS, 2003: 14).
Entretanto, é importante compreender que, apesar de todas as situações aqui expostas, o objetivo não é o de condenar ou julgar. Está-se apenas demonstrando que, ao longo dos anos, gradativamente a família, por força das circunstâncias já descritas, tem transferido para a escola a tarefa de formar e educar. Entretanto, essa situação não mais se sustenta. É preciso trazer, o mais rápido possível, a família para dentro da escola. É preciso que ela passe a colaborar de forma mais efetiva com o processo de educar. É preciso, portanto, compartilhar responsabilidades e não transferi-las.
É dentro desse espírito de compartilhar que não se pode deixar de citar a iniciativa do MEC, que instituiu a data de 24 de abril como o Dia Nacional da Família na Escola. Nesse dia, todas as escolas são estimuladas a convidar os familiares dos alunos para participar de suas atividades educativas, pois segundo declaração do ex-Ministro da Educação Paulo Renato Souza "quando os pais se envolvem na educação dos filhos, eles aprendem mais".
A família deve, portanto, se esforçar em estar presente em todos os momentos da vida de seus filhos. Presença que implica envolvimento, comprometimento e colaboração. Deve estar atenta a dificuldades não só cognitivas, mas também comportamentais. Deve estar pronta para intervir da melhor maneira possível, visando sempre o bem de seus filhos, mesmo que isso signifique dizer sucessivos “nãos” às suas exigências. Em outros termos, a família deve ser o espaço indispensável para garantir a sobrevivência e a proteção integral dos filhos e demais membros, independentemente do arranjo familiar ou da forma como se vêm estruturando (KALOUSTIAN, 1988).
Educar, portanto, não é uma tarefa fácil, exige muito esforço, paciência e tranqüilidade. Exige saber ouvir, mas também fazer calar quando é preciso educar. O medo de magoar ou decepcionar deve ser substituído pela certeza de que o amor também se demonstra sendo firme no estabelecimento de limites e responsabilidades. Deve-se fazer ver às crianças e jovens que direitos vêm acompanhados de deveres e para ser respeitado, deve-se também respeitar.
No entanto, para não tornar essa discussão por demais simplista, é importante, entender, que quando se trata de educar não existem fórmulas ou receitas prontas, assim como não se encontra, em lugar algum, soluções milagrosas para toda essa problemática. Como já foi dito, educar não é uma tarefa fácil; ao contrário, é uma tarefa extremamente complexa. E talvez o que esteja tornando toda essa situação ainda mais difícil seja o fato de a sociedade moderna estar vivendo um momento de mudanças extremamente significativas.
Segundo Paulo Freire: “A mudança é uma constatação natural da cultura e da história. O que ocorre é que há etapas, nas culturas, em que as mudanças se dão de maneira acelerada. É o que se verifica hoje. As revoluções tecnológicas encurtam o tempo entre uma e outra mudança” (2000: 30). Em outras palavras, está-se vivendo, em um pequeno intervalo de tempo, um período de grandes transformações, muitas delas difíceis de serem aceitas ou compreendidas. E dentro dessa conjuntura está a família e a escola. Ambas tentando encontrar caminhos em meio a esse emaranhado de escolhas, que esses novos contextos, sociais, econômicos e culturais, nos impõem.
Para finalizar esse texto é importante fazer algumas considerações que, se não trazem soluções definitivas, podem apontar caminhos para futuras reflexões. Assim, é preciso compreender, por exemplo, que no momento em que escola e família conseguirem estabelecer um acordo na forma como irão educar suas crianças e adolescentes, muitos dos conflitos hoje observados em sala de aula serão paulatinamente superados. No entanto, para que isso possa ocorrer é necessário que a família realmente participe da vida escolar de seus filhos. Pais e mães devem comparecer à escola não apenas para entrega de avaliações ou quando a situação já estiver fora de controle. O comparecimento e o envolvimento devem ser permanentes e, acima de tudo, construtivos, para que a criança e o jovem possam se sentir amparados, acolhidos e amados. E, do mesmo modo, deve-se lutar para que pais e escola estejam em completa sintonia em suas atitudes, já que seus objetivos são os mesmos. Devem, portanto, compartilhar de um mesmo ideal, pois só assim realmente estarão formando e educando, superando conflitos e dificuldades que tanto vêm angustiando os professores, como também pais e os próprios alunos.


Referência: por MARGARETE J. V. C. HÜLSENDEGER disponível em: http://www.espacoacademico.com.br/067/67hulsendeger.htm


sexta-feira, 26 de março de 2010

Bulliyng e deficiencia

texto extraído da Revista Escola


A violência moral e física contra estudantes com necessidades especiais é uma realidade velada. Saiba o que fazer para reverter essa situação

Um ou mais alunos xingam, agridem fisicamente ou isolam um colega, além de colocar apelidos grosseiros. Esse tipo de perseguição intencional definitivamente não pode ser encarado só como uma brincadeira natural da faixa etária ou como algo banal, a ser ignorado pelo professor. É muito mais sério do que parece. Trata-se de bullying. A situação se torna ainda mais grave quando o alvo é uma criança ou um jovem com algum tipo de deficiência - que nem sempre têm habilidade física ou emocional para lidar com as agressões. Tais atitudes costumam ser impulsionadas pela falta de conhecimento sobre as deficiências, sejam elas físicas ou intelectuais, e, em boa parte, pelo preconceito trazido de casa. Em pesquisa recente sobre o tema, realizada com 18 mil estudantes, professores, funcionários e pais, em 501 escolas em todo o Brasil, a Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas (Fipe) constatou que 96,5% dos entrevistados admitem o preconceito contra pessoas com deficiência. Colocar em prática ações pedagógicas inclusivas para reverter essa estatística e minar comportamentos violentos e intolerantes é responsabilidade de toda a escola. Conversar abertamente sobre a deficiência derruba barreiras
SANTO REMÉDIO A professora Maria de Lourdes falou com toda a turma sobre a deficiência de um colega. Foto: Marina Piedade"Resolvi explicar que o Gabriel sofreu má-formação ainda na barriga da mãe. Falamos sobre isso numa roda de conversa com todos."Maria de Lourdes Neves da Silva, professora da EMEF Professora Eliza Rachel Macedo de Souza, em São Paulo, SP
Quando a professora Maria de Lourdes Neves da Silva, da EMEF Professora Eliza Rachel Macedo de Souza, na capital paulista, recebeu Gabriel**, a reação dos colegas da 1ª série foi excluir o menino - na época com 9 anos de idade - do convívio com a turma. "A fisionomia dele assustava as crianças. Resolvi explicar que o Gabriel sofreu má-formação ainda na barriga da mãe. Falamos sobre isso numa roda de conversa com todos (leia no quadro abaixo outros encaminhamentos para o problema). Eles ficaram curiosos e fizeram perguntas ao colega sobre o cotidiano dele. Depois de tudo esclarecido, os pequenos deixaram de sentir medo", conta. Hoje, com 13 anos, Gabriel continua na escola e estuda na turma da professora Maria do Carmo Fernandes da Silva, que recebe capacitação do Centro de Formação e Acompanhamento à Inclusão (Cefai), da Secretaria Municipal de Educação de São Paulo, e está sempre discutindo a questão com os demais educadores. "A exclusão é uma forma de bullying e deve ser combatida com o trabalho de toda a equipe", afirma. De fato, um bom trabalho para reverter situações de violência passa pela abordagem clara e direta do que é a deficiência. De acordo com a psicóloga Sônia Casarin, diretora do S.O.S. Down - Serviço de Orientação sobre Síndrome de Down, em São Paulo, é normal os alunos reagirem negativamente diante de uma situação desconhecida. Cabe ao professor estabelecer limites para essas reações e buscar erradicá-las não pela imposição, mas por meio da conscientização e do esclarecimento. Não se trata de estabelecer vítimas e culpados quando o assunto é o bullying. Isso só reforça uma situação polarizada e não ajuda em nada a resolução dos conflitos. Melhor do que apenas culpar um aluno e vitimizar o outro é desatar os nós da tensão por meio do diálogo. Esse, aliás, deve extrapolar os limites da sala de aula, pois a violência moral nem sempre fica restrita a ela. O Anexo Eustáquio Júnio Matosinhos, ligado à EM Newton Amaral Franco, em Contagem, na região metropolitana de Belo Horizonte, encontrou no diálogo coletivo a solução para uma situação provocada por pais de alunos. Este ano, a escola recebeu uma criança de 4 anos com deficiência intelectual e os pais dos coleguinhas de turma foram até a Secretaria de Educação pedir que o menino fosse transferido. A vice-diretora, Leila Dóris Pires, conta que a solução foi fazer uma reunião com todos eles. "Convidamos o diretor de inclusão da secretaria e um ativista social cadeirante para discutir a questão com esses pais. Muitos nem sabiam o que era esse conceito. A atitude deles foi motivada por total falta de informação e, depois da reunião, a postura mudou."


Seis soluções práticas


- Conversar sobre a deficiência do aluno com todos na presença dele.

- Adaptar a rotina para facilitar a aprendizagem sempre que necessário.

- Chamar os pais e a comunidade para falar de bullying e inclusão.

- Exibir filmes e adotar livros em que personagens com deficiência vivenciam contextos positivos.

- Focar as habilidades e capacidades de aprendizagem do estudante para integrá-lo à turma.

- Elaborar com a escola um projeto de ação e prevenção contra o bullying.


** Os nomes dos alunos foram trocados para preservar a identidade

quinta-feira, 25 de março de 2010

SER DIFERENTE TORNOU-SE VANTAGEM

por Reinaldo S. Bulgarelli

Falando sobre o exemplo de mulher que pode ser afro, mãe, etc, imagine que em cada um dos lugares onde estamos presentes, por mais reduzida que seja nossa vida social, somos essa “variedade de variações” e convivemos com pessoas que têm as suas inúmeras variedades também. É isso que é a diversidade humana e cultural e é isso que as empresas e outras organizações sociais estão descobrindo cada vez mais como um valor bastante positivo. O valor de sermos diferentes e estarmos vivendo juntos sob o manto das regras de civilidade, regras democráticas estabelecidas para que possamos cumprir com nossos compromissos, no espaço privado ou público, realizar nossos projetos pessoais ou coletivos de felicidade.
A empresa moderna, sobretudo, está percebendo que a melhor forma de sobreviver e se perpetuar, numa sociedade em que as mudanças estão cada vez mais rápidas, é sendo flexível, criativa, aberta ao novo, proativa, inovadora, conseguindo enxergar e sendo vista por diferentes segmentos ou grupos com os quais mantém relações e que são parte interessada no negócio: seus colaboradores, fornecedores, acionistas, clientes, concorrentes, a comunidade, o poder público e a sociedade em geral.
Uma empresa que discrimina portadores de deficiência física, por exemplo, pode estar perdendo um excelente funcionário para uma concorrente, um grande cliente, um bom negócio ou a sua valiosa imagem diante da sociedade, que despreza cada vez mais quem discrimina negativamente, gera exclusão e apartação.
Valorizar a diversidade, além de ser uma atitude corporativa das melhores, é também uma necessidade e, por conseqüência, um bom negócio. Valor é aquilo que pesa na hora de tomarmos uma decisão, aquilo que tem significado e, por isso mesmo, torna-se uma prática, uma ação, uma atitude concreta a favor de algo e contra algo. Como a diversidade é um valor, há empresas aqui e no mundo que estão promovendo a diversidade em todas essas relações, buscando uma maneira de realizar os seus negócios de um jeito que respeite e até incentive as diferenças, fazendo com que elas concorram para melhorar os resultados, a relação com a sociedade e a própria vida em sociedade.
Há empresas que estão buscando contratar colaboradores e fornecedores de fontes variadas. Há outras que até procuram investir numa educação de melhor qualidade para aqueles segmentos discriminados, para que possam integrar o mercado de trabalho de uma maneira mais “empoderada”, rompendo com a exclusão em que estão inseridos. Há empresas que estão colocando pessoas de outros segmentos (além do “padrão dominante”) nas suas peças publicitárias e de comunicação em geral, ajudando a tirar essas pessoas daqueles lugares determinados em que estão aprisionadas: mulheres comprando carros, homens lavando louça, mulheres negras comprando roupas de grife, portadores de deficiência em práticas esportivas e assim por diante.
Não estranhe se a sua diferença, aquilo que você esconde ou procura diluir numa série de outros atributos que você tem, for “pinçada” por uma dessas empresas afinadas com a Era do Conhecimento e com os desafios do nosso tempo. Se você for convidado para trabalhar e progredir numa dessas empresas, não será por conta da sua semelhança com todos os outros, principalmente do “padrão dominante”. Sentir-se diverso, saber-se assim e assim reconhecer-se e apresentar-se, mesmo sendo membro do grupo dominante, é fundamental para ir além daquilo que já está estabelecido. Saber ser o que é e acolher os outros, dentro do horizonte ético dos direitos humanos, das leis que emancipam e dão espaço para todos, faz com que a diferença faça a diferença. As pessoas estão sendo respeitadas e acolhidas nestes ambientes exatamente por conta da sua diferença, desde que elas realmente façam a diferença. Uma diferença que é apenas superficial, não faz a diferença, mas aquela que é valorizada, considerada pela própria pessoa, que produz idéias sobre si mesma e sobre o mundo de maneira inovadora em relação ao padrão, pode contribuir melhor para a construção de um mix criativo, sinérgico e que ajuda a todos no enfrentamento dos desafios da vida no plano individual e coletivo.
Portanto, não tema e seja você mesmo, valorize você também aquilo que o torna especial e único. Mais do que a sua cor de pele ou a sua orientação sexual (ou as duas características juntas numa só pessoa) é a sua bagagem, a sua experiência, o olhar peculiar que você possui que está sendo valorizado para construir, a partir das diferenças respeitadas e incentivadas, acolhidas e garantidas, um mix que gera essa sinergia e promove o seu sucesso, o sucesso dos negócios e uma sociedade, enfim, bem-sucedida.
A diversidade como valor fortalece e se fortalece com o movimento de responsabilidade social corporativa porque, além de tudo, está identificada com os interesses legítimos da sociedade e contribui para a superação de desigualdades intoleráveis geradas pela discriminação arbitrária, sem justificativa, injustas, portanto. As discriminações positivas, ou seja, aquelas que ajudam a corrigir as desigualdades históricas e persistentes que todos construímos (herdando ou mantendo), são bem-vindas num ambiente que valoriza a diversidade.
Se a empresa tem uma vaga de gerência, todas as outras foram ocupadas por homens e estão concorrendo homens e mulheres em iguais condições de terem o posto (mérito, capacidade e talento), por que não discriminar positivamente uma mulher para o cargo? A empresa precisa também do olhar feminino e as mulheres agradecem essa distinção, caso contrário, se deixar o barco correr ao sabor dos padrões dominantes e dos estereótipos, sabe quando as mulheres, os negros, os idosos, os jovens, as pessoas portadoras de deficiência, os gays estarão nos lugares onde hoje ainda não os vemos com freqüência? Nunca!
Se você é chefe, cuidado para não perder talentos ou impedir que esses talentos se desenvolvam por conta dos seus preconceitos. Se você é subordinado de alguém que pertence a um grupo que geralmente não está em posição de chefia, por ser gay, negro, mulher, deficiente, mais jovem que você, mais velho que seu avô, com um sotaque diferente do seu, com uma experiência de vida diferente da sua, com outra religião ou forma de professar sua fé, cuidado para não deixar de aproveitar a convivência com alguém diferente de você, numa relação que pode ser de complementaridade e não de competição, como estamos acostumados ou como somos geralmente induzidos a assim agir por uma lógica que não é mais a de uma empresa moderna.
Se seu colega é diferente de você ou dos padrões que você acha “normais”, interaja, não deixe de ser o que você é e nem o obrigue a ser como você, sabendo que estamos todos construindo um novo tempo, num diálogo democrático que pode mudar nosso país e o mundo. Não somos tão pobres assim, como dizem alguns, mas injustos. A lógica da inclusão, em todos os campos, principalmente no trabalho, pode alterar o mapa de desigualdades raciais, de gênero e sociais que temos produzido. Para isso, precisamos mudar os nossos próprios mapas mentais que determinam a forma como todos nós nos vemos e vemos aos outros, interpretamos o nosso passado, lidamos com o nosso presente e projetamos o nosso futuro.
Diversos somos nós todos e todos somos responsáveis por promover a diversidade como valor em nossas vidas e em todos os lugares onde estamos ou onde pretendemos chegar um dia. Seja você também uma pessoa, um profissional, um cidadão que valoriza a diversidade, lutando pelo seu espaço ou compreendendo, aceitando e incentivando que outros, apesar das muitas qualidades que você possui, também tenham a chance de estar em lugares onde a sociedade não costuma lhes dar a oportunidade de ocuparem.
Essas pessoas não chegarão lá porque são diferentes apenas, mas porque também têm mérito, também têm qualidades que, em geral, não são reconhecidas. É verdade que ter mérito é fundamental para estar em determinados lugares, mas também é verdade que a concepção de mérito, os critérios com os quais analisamos os tais méritos estão profundamente ligados ao padrão dominante assim dado e imposto a todos nós, oferecendo farto material subjetivo para a inclusão ou exclusão das pessoas.
Todos temos o direito de sermos felizes e todos podemos fazer a diferença na vida da empresa, na nossa própria vida, na vida em sociedade, no diálogo entre as civilizações. Aproveitemos os novos tempos!


Referencia: http://www.unicrio.org.br/Textos/dialogo/reinaldo_s_bulgarelli.htm

quarta-feira, 24 de março de 2010

A Diversidade e a Experiência de Fazer Juntos

por Reinaldo S. Bulgarelli

Não nos descaracterizem!
Não há no mundo alguém que seja totalmente igual a outro alguém. Pelo que dizem, ainda não há ninguém clonado entre nós e, mesmo que tivéssemos, duvido que seria igual ao original porque viveria num outro tempo e lugar, passaria por outras experiências, conheceria outras pessoas, ouviria outras músicas, enfim, teria outra interação com as pessoas e seus costumes. Nem nós mesmos somos hoje o que fomos ontem, não é mesmo? As coisas mudam e mudam com uma rapidez cada vez maior, espanto de nossos tempos atuais.
Enfim, somos tão diferentes uns dos outros que foi preciso construir uma Declaração Universal dos Direitos Humanos, num determinado momento de nossa história (1948), para nos lembrar que, na origem, todos somos também iguais por termos algo em comum que nos distingue dos outros seres. Isso foi uma conquista da humanidade e podemos, ou melhor, devemos nos incluir nessa conquista e nesta humanidade, sentindo-nos responsáveis por manter e ampliar os direitos fundamentais ali expressos e a nossa experiência humana individual e coletivamente.
Diferentes, queremos assim continuar e não deixar que a igualdade nos descaracterize. Iguais, queremos também assim permanecer e ainda ampliar essa igualdade perante a lei, nossa igualdade jurídica, formal, para não permitir que nossas diferenças nos inferiorizem uns em relação aos outros, como nos lembra tão bem o professor Boaventura.1
É exatamente isso que tememos tanto: que as diferenças sejam um motivo de desigualdades, que questões como sexo, cor de pele, religião, orientação sexual, condições físicas, classe social, idade, entre outras tantas diferenças objetivas que temos, assumam uma relevância que determine o tipo de relação que teremos com a sociedade, com o amor, com o trabalho, com a cultura, com os bens e riquezas produzidos, com o futuro, com a vida, enfim. Afinal, mesmo quando temos algumas características marcantes, básicas, como o fato de ser homem ou mulher, isso não pode determinar ganharmos mais ou menos, ocuparmos lugares de comando ou apenas de subordinação, pertencermos a classe social ou outra, sermos aceitos para algumas coisas e não para outras.
PODEMOS ESCOLHER COMO LIDAR COM NOSSAS PRÓPRIAS DIFERENÇAS

Seja como for, podemos escolher, damos pesos diferentes, optamos por nos apresentar ou auto-representar com essa ou aquela característica. Uma pessoa pode ser afro-descendente, com um fenótipo bem definido como tal, e não se ver ou não dar peso algum a isso, por exemplo, diante do pesquisador do IBGE a perguntar sua cor: branca, preta, parda, amarela ou indígena (indígena não é cor, mas eles um dia vão bolar algo melhor para caracterizar as pessoas por raça ou etnia). Essa pessoa pode ser uma daqueles milhares que, quando importunada, declara ser cor de bombom, mulatinhas, morenas, pardas ou azuis.
Uma outra pessoa pode ter a pele clara e, mesmo assim, para espanto do tal pesquisador, assumir uma postura afirmativa em relação à sua condição de afro-descendência ou à sua origem indígena, por exemplo.Objetivamente, contudo, apesar da auto-representação revelar maior ou menor consciência ou mesmo gosto pelo pertencimento a um ou outro grupo racial ou étnico, a sociedade em geral sempre sabe identificar muito bem as pessoas, hierarquizar racialmente, incluir ou excluir com base nessa característica básica.
O tratamento que a sociedade confere aos negros, sejam eles pretos ou pardos, segundo o nosso IBGE, não deixa dúvidas sobre a expertise em identificar racialmente para discriminar socialmente, economicamente, culturalmente, afetiva e efetivamente quem pertence a um ou outro grupo, destinando lugares “próprios” a cada um. Os dados das pesquisas governamentais ou não-governamentais demonstram isso o tempo todo. Portanto, se alguém tem dúvidas sobre a própria cor de pele, pergunte para certos policiais, juizes, empregadores, educadores, políticos, entre outros, que são especialistas em identificar para discriminar negativamente. Que saibam esses “profissionais” da identificação que nosso país não é tão mestiço, como se declara até no pensamento, exatamente pela capacidade que algumas pessoas têm de identificar raça, cor ou etnia e gerar discriminações, apartações das mais escandalosas.
A discussão sobre cotas suscita debates muito interessantes e esse da impossibilidade de identificar quem é negro é um deles num país dito mestiço. Como é que conseguem identificar na hora de escolher o elenco de uma novela ou de uma peça teatral? Como é que conseguem fazer isso na hora de contratar pessoas que vão para a linha de frente no contato com o público em geral numa empresa? Como é que conseguem quando realizam avaliações de rendimento ou planos de carreira? Como é que conseguem na hora de definir quem sai mais cedo do sistema de ensino e terá o melhor aproveitamento escolar? Como é que conseguem fazer isso na hora de escolher as imagens que irão compor os livros didáticos, as revistas, os jornais? Como é que conseguem o tempo todo, na hora de prejudicar um grupo da sociedade, e não conseguem na hora de construir efetivamente as condições de igualdade, de oferecer um benefício, um direito, uma oportunidade que poderá mudar a história do país para todos os seus habitantes?
A declaração de uma ou outra descendência pode se dar, assim, muito mais por defesa contra o ataque dos padrões dominantes. Mas poderia se dar, sobretudo, como afirmação de um conjunto de características que se quer ver valorizado, respeitado, integrado em condições de igualdade nessa rede de relações sociais em que todos estamos inseridos. Todos deveriam ter o direito a uma imagem positiva na sociedade para que pudessem mais facilmente construir dentro de si mesmos uma auto-imagem positiva. As fotos, as imagens, as linguagens, enfim, que estão a serviço dos padrões dominantes e do ataque à auto-estima dos “outros” destróem, minam, descaracterizam as diferenças, tentam pasteurizar, homogeneizar tudo em volta como se tudo fosse uma coisa só e não essa rica diversidade que tanto nos qualifica para o sucesso por ser solução e não problema.
Podemos refletir também sobre a consciência feminina e a noção que as mulheres podem ou não adquirir sobre sua condição de mulher numa sociedade machista e que também hierarquiza as relações de gênero. O mesmo vale para os gays, homens ou mulheres, que podem querer assumir essa condição de uma maneira defensiva ou afirmativa, ou mesmo jamais assumi-la diante da família, na escola, no ambiente de trabalho ou diante de si mesmos. Isso determina não apenas uma condição individual, mas coletiva, social. Assumir-se ou não numa ou noutra condição ou situação pode gerar um impacto não apenas na vida da pessoa, mas na vida da sociedade, fazendo avançar ou não, melhorar ou não essa condição ou situação conforme a capacidade de resistência, organização e proposição que adquire.
Hoje, pela forma como os gays se vêem e se percebem na sociedade, pela disposição de cada indivíduo diante do assumir-se ou não como gay, é inconcebível realizar pesquisas sobre orientação sexual em qualquer organização bem-intencionada em relação aos resultados dessa pesquisa. Assim, com esse pensamento ou essa opção, é muito difícil que os gays conquistem os mesmos direitos que mulheres e negros estão ampliando cada vez mais. Não fosse um grupo militante, o pouco que se tem nem existiria por conta dessa postura dos gays brasileiros de não acharem oportuno enfrentar as práticas homofóbicas se autodeclarando ou assumindo-se como tais.
É um jeito de pensar, de ser e de agir que é construído com base nas condições concretas de existência que nos são dadas ou impostas e sobre as quais realizamos escolhas, fazemos nossas opções cotidianas e fundamentais, ampliando nossa liberdade e bem-estar ou reduzindo-os, conforme o estrago que o pensamento dominante causa em nossos mapas mentais, nossas crenças, valores, paradigmas e interesses ou desejos. Podemos transcender aquilo que nos foi dado, podemos tomar nas mãos a própria história e conceber a nós mesmos de uma maneira mais positiva, projetando nosso futuro com uma liberdade e um bem-estar ampliados.
Assumir-se de uma ou outra maneira, ter uma visão positiva ou negativa sobre a própria condição, as próprias características básicas ou secundárias, pode determinar a forma de inserção na sociedade, um lugar social, mas, sobretudo, pode também determinar a forma como as pessoas lidam com esse lugar que lhes é atribuído, sendo alguém que está ou não no padrão dominante. A solidariedade de brancos para com não-brancos e de heterossexuais com homossexuais, por exemplo, demonstra que há possibilidades variadas de mobilidade virtual ou real em relação às hierarquizações sociais dadas ou impostas.2 O importante, portanto, não é aquilo que temos e somos, mas o que fazemos com isso que nos é dado ou imposto.

segunda-feira, 22 de março de 2010

Gangue de meninas causa pânico em escola de Sorocaba

Pessoal olhem aonde estamos chegando...

A Escola Estadual Joaquim Izidoro Marins, em Sorocaba, interior de São Paulo, tem presenciado uma série de agressões nos últimos tempos. O pânico de pais, alunos e professores está sendo gerado por uma gangue de 15 meninas. Em um dos casos, o grupo fez com que uma adolescente de 12 anos fosse parar no hospital. A diretora do colégio, que também confessa ter sido agredida, informa que já solicitou a ajuda do Conselho Tutelar.

sexta-feira, 19 de março de 2010

Constrangimento na escola: Sem tênis, aluna é barrada na aula

Adolescente foi impedida de assistir aula no Frei Albino por usar sandálias. Conselho Tutelar está acompanhando o caso
Uma aluna da 8ª série da Escola Municipal Frei Albino, no Bessa, foi impedida de assistir aula porque estava sem o tênis. De acordo com o pai da criança de 12 anos, o pastor Silva Neto, por esse motivo, a filha estava sendo vitima de constrangimento e piadas por parte dos colegas e que a menina freqüentava às aulas de sandália porque ele estava sem dinheiro para comprar o calçado. "A diretora estava exigindo que todos os alunos fossem para aula de tênis e que se a regra não fosse cumprida os alunos seriam barrados na escola", disse o pai que registrou queixa no conselho tutelar.
Nenhum aluno pode ser impedido de assistir às aulas por falta de uniforme, segundo esclareceu Roberto Lira, conselheiro do Conselho Tutelar de João Pessoa. De acordo com ele, existe uma lei maior no Estatuto da criança e do adolescente que diz que nenhuma criança e adolescente pode estar fora da sala de aula e que não existe regulamento que se refira à expulsão do aluno por falta de fardamento. "Não há nenhuma resolução determinando que o aluno tenha que vir com o fardamento completo", disse Lira. A diretora adjunta da escola, Aparecida Vasconcelos disse que o município ainda não deu prazo para a entrega do fardamento, por esse motivo, em reunião com os professores decidiram fazer um regimento interno para determinar regras de organização na escola. Um dos itens desse regimento seria que o aluno frequentasse à sala de aula de calça jeans, blusa de manga e tênis. "A direção em conjunto com pais e professores decidiram tomar essa decisão de que nenhum aluno poderia entrar sem a vestimenta completa", falou a diretora, que disse que a aluna foi impedida de assistir aula, mas a escola ficou aberta para ela freqüentar.
O conselheiro explicou que não se pode exigir o fardamento dos alunos até que o município repasse o material. "Não depende de reunião de equipe, de regimento de escola, a lei é bem clara, não se deve impedir alunos de entrar na sala de aula por causa de um fardamento", assegurou. Roberto ainda afirmou que a direção da escola está ferindo o estatuto não permitindo que a criança frequente à escola por causa de um sapato. Segundo o conselheiro existe uma determinação da Secretaria de Educação do Município (Sedec) dizendo que a criança tem que ir à escola de calçado, mas para que isso aconteça é necessário existir esse calçado. "Você não pode exigir uma coisa se não é ofertado. A criança não pode ser constrangida diante de todos na escola", disse o conselheiro que revelou que, se realmente houve constrangimento, será considerado crime e tem que ser apurado e encaminhado para as instâncias legais, tanto no Ministério Público como na Delegacia de Infância e Juventude. Prestada a queixa, o conselheiro solicitará os esclarecimentos por parte da escola até o dia 11. Depois de ouvir a escola será feito um relatório e encaminhado para o Ministério Público que assumirá o caso. O conselheiro garantiu que a menina voltará a frequentar a escola normalmente. A assessoria de comunicação do município informou que a atitude da professa não foi correta, e que a Sedec irá até a escola apurar o assunto. Ainda de acordo com a assessoria, a partir da segunda semana de março o município de João Pessoa estará distribuindo mais de 70 mil kits de material didático para rede municipal de ensino, incluindo, além de cadernos, livros, lápis, o fardamento, com tênis, camisas e mochilas.

sábado, 13 de março de 2010

Bullying: Do conto infantil a tragédia social


Como consta em várias reportagens, o Bullying é o tema do mês, inclusive tivemos nesta semana relatos de que a princesa japonesa Aiko foi vítima de "assédio escolar" no colégio em que estuda. Vejam a nota:

" A princesa, que estuda na renomada escola Gakushuin, em Tóquio, se queixou de dor de estômago e ansiedade, e desde terça-feira passada não foi à escola, segundo um porta-voz citado pela agência "Kyodo".
Aparentemente, um grupo de meninos da escola intimidou vários colegas, entre eles a princesa Aiko, o que levou o Palácio Imperial a intervir e pedir aos responsáveis pelo colégio para solucionarem o problema, informou o porta-voz.
Esta é a primeira ocasião na qual a Casa Imperial japonesa intervém para resolver problemas no colégio da pequena Aiko.
"
Por conta de mais este fato, separei mais uma matéria sobre o tema.
Sabrina

Agressão sobre "patinhos feios" é indício de delinqüência escolar

Apesar dos festejos que tomaram os dias de outubro, "mês das crianças", vítimas de bullying não vêem motivos para comemorar. O fenômeno internacional, resultado de atitudes agressivas intencionais e repetitivas entre estudantes que disputam poder, afeta a vida de 40,5% da população infantil carioca, segundo pesquisa realizada em 2002 pela ABRAPIA (Associação Brasileira Multiprofissional de Proteção à Infância e à Adolescência), envolvendo 5.875 estudantes de 5ª à 8ª séries, de 11 escolas localizadas no município.
Nas escolas, nos clubes e nos cursos de idioma há, pelo menos, uma criança que é alvo de rejeições. O desajuste infantil - gerado pela sensação de não-pertencimento ao código social - é pretexto suficiente para a chacota geral ou, em muitos casos, é fruto dela. O drama, apesar de não ser recente e de atingir instituições públicas e privadas, somente agora é reconhecido como um distúrbio social a ser combatido por orientadores escolares.
Segundo a psicoterapeuta especializada em terapia infantil pela Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-Rio) e professora do Programa de Pós-Graduação em Psicologia Existencial do ISECENSA - Campos dos Goytacazes, Cristiana Pizarro, "os alvos, em geral, são pouco sociáveis e detentores de um forte sentimento de insegurança, que os impede de solicitar ajuda, além de não disporem de status, recursos ou habilidade para cessarem os atos danosos contra si".
De acordo com os resultados do programa, os traumas sobre a vítima são complexos e exigem imediatos diagnóstico e tratamento, bem como sua repercussão social. Muitas crianças passam a ter baixo desempenho escolar, resistem a freqüentar a instituição de ensino e abandonam os estudos precocemente. O bullying pode gerar, ainda, casos de depressão e de suicídio entre jovens que não recebem a devida orientação escolar ou familiar a tempo. Já os praticantes do bullying, de acordo com a psicóloga, "tornam-se, muitas vezes, adultos com atitudes violentas e anti-sociais, podendo adotar, inclusive, comportamentos delinqüentes ou criminais".
- Eu era um "patinho feio" que conseguiu derrubar o estigma, mas ainda hoje sofro as conseqüências da agressão. De uma criança falante passei a assumir a introspecção e a timidez como defesa. Rasgava e escondia convites de aniversários porque sabia que me humilhariam por meus óculos fundo de garrafa, pernas finas, meias bordadas pela avó e, para completar, por meu bom desempenho escolar. Agora, apesar de muito sociável, sofro, sobretudo, em situações de concorrência profissional, quando a insegurança prevalece - declara a jornalista e estudante de Artes Cênicas, Luiza Gomes.
Para a psicóloga, a saída pelo consumo é bastante usual, o que amplia o mal-estar social e a síndrome do ter para suprimir lacunas.
- Aproximar-se de um modelo estético e comportamental tornou-se pré-requisito em qualquer ambiente de sociabilidade, sobretudo para o indivíduo em fase de formação. A constante busca por aceitação condena o jovem ao cárcere da multiplicidade padrão, ou seja, desde muito cedo, tornamo-nos joguetes dentro do mesmo, proibidos de qualquer rasgo de autenticidade, regrados pelo vazio do descartável. O diferente ameaça o limiar de conforto da polis e é sumariamente expelido pela conveniência da imagem. Um simples "desvio" ao previsível é considerado nocivo ao corpo social, para muitos, beirando inclusive a patologia. É emergencial que se trabalhe para reverter essa lógica. A saúde social não está na eliminação da curva, mas na possibilidade da igualdade pela diferença.
Apelidar, agredir, difamar, ameaçar e pegar pertences são apenas algumas das "brincadeiras" físicas e psicológicas a que está suscetível qualquer criança que, intimidada, possivelmente não irá motivar adultos a agirem em sua defesa. Portanto, mais do que diagnosticar o problema, é preciso difundir o conceito do bullying para que pais e orientadores escolares atentem para a tomada de iniciativas.


Referências:
imagem: http://images.ig.com.br/publicador/ultimosegundo/arquivos/cdocuments_and_settingslmeirelesigdesktope52673df3ab64b1893d70289c70f5fa5

textos: http://www.conexaoprofessor.rj.gov.br/temas-especiais-10.asp
http://ultimosegundo.ig.com.br/mundo/2010/03/05/princesa+do+japao+deixa+de+ir+as+aulas+por+provocacoes+de+colegas+9417898.html

terça-feira, 9 de março de 2010

Fique por dentro !

Redomas de cristal

Walcyr Carrasco compara a diversidade da escola pública que freqüentou com as escolas particulares fechadas de hoje
Semanas atrás, fui jantar com alguns colegas de classe do colegial. Estudamos juntos há cerca de quarenta anos. Ainda nos vemos, acompanhamos a trajetória de vida de cada um e torcemos nas situações difíceis. Cursei um colégio público, experimental, de ótima reputação na época. Uma das teses dos educadores era mesclar as diversas classes sociais. Devido à fama, a escola atraía até milionários. Eu, um garoto pobre, convivi com colegas de status social maior e até menor que o meu. Foi enriquecedor. Sem falsa modéstia, acredito que para os outros também. Para meu espanto, as famílias atuais buscam exatamente o oposto. Particularmente, acho os condomínios maravilhosos. Quando eu era criança, entrar em piscina era privilégio raro! Hoje, crianças de classe média nadam a metros de onde vivem. Discordo, sim, da visão de boa parte dos pais. – Meus filhos nem vão precisar sair. A escola é ao lado, o shopping é próximo. Segurança total – contou-me um amigo ao mudar de endereço. Fiquei de queixo caído com sua ingenuidade. Está certo, a violência anda cada vez maior. Qualquer pai ou mãe fica apavorado quando o filho se atrasa. Isolar ajuda, de fato? "Proteger é diferente de esconder", diz o escritor Gabriel Chalita em seu recém-lançado Pedagogia da Amizade. "Não se esconde o filho do mundo nem o mundo do filho." Eu soube de colégios ricos onde os alunos disputam quem tem o relógio mais caro ou o último lançamento eletrônico, por exemplo. Esses garotos não seriam pessoas melhores se pudessem conviver com outros, em situações diferentes, para entender que o planeta não gira em função das grifes?
Essas famílias só visitam famílias parecidas, que fazem compras nos mesmos shoppings, comem em restaurantes idênticos, usam roupas de grifes iguais e fazem os filhos viver vidas inventadas em série. É como reunir todas as aves num só galinheiro. Basta a chegada de uma única raposa para fazer a festa. Quando escrevi um livro para adolescentes sobre drogas, investiguei a fundo como ocorre o primeiro contato. Em geral é por meio de um conhecido acima de qualquer suspeita: vizinho, namorado, parente próximo. Em uma palestra recebi o depoimento emocionado de um pai cujo próprio irmão introduzira seu filho no consumo pesado. – Eu nunca suspeitei de meu irmão! – ele disse chorando. – E agora perdi meu filho! É óbvio. Imagine um bando de garotos de boa situação financeira que pouco conhecem da vida. Fechados em seu mundinho. Chega um com a novidade. Cresce a curiosidade. E de um em um todos querem experimentar. Se fossem mais escolados seriam alvos tão fáceis? Triste é saber também que, se alguma família perde dinheiro, passa a ser malvista. É comum surgir um comentário depreciativo porque alguém atrasou o condomínio, como se uma crise financeira fosse um problema moral. Ou seja, os valores começam a ficar distorcidos, por serem somente materiais. Não é à toa que se ouve falar, com freqüência, em jovens de classe média que partem para o crime. Educar um filho hoje em dia é difícil, pois são inúmeras as armadilhas. Passei por riscos e estou aqui, inteiro. Alguns amigos superprotegidos, ao contrário, não deram em nada. Ainda, já depois dos 50 anos, não querem saber do batente. Educar a criança em um mundo que não existe pode dar uma sensação de segurança. Mais tarde, ela não estará pronta para enfrentar a realidade, certamente muito mais árdua.

Referência: http://educarparacrescer.abril.com.br/comportamento/redomas-cristal-345481.shtml

sábado, 6 de março de 2010

Escola infantil separa meninos e meninas em Curitiba (PR)

...pessoal vejam que absurdo o que ocorre nesta escola em Curitiba, vi esta reportagem ontem na TV Record...

Sabrina

Especialistas em educação criticam este modelo de ensino

Uma escola infantil em Curitiba, no Paraná, adotou um sistema de ensino diferentes nos dias de hoje. Lá, os meninos estudam em salas separadas das meninas. Eles só têm aulas com professores, e elas, com professoras. Nem na hora do intervalo os estudantes se misturam.
Os pais que escolheram matricular as crianças neste colégio ressaltam as vantagens da separação. Ney Kloster, pai de um estudante, afirma que a convivência entre meninos e meninas atrapalha o ambiente escolar:
- No recreio de uma escola mista, os meninos vão brincar para um lado e as meninas vão para outro. Quando você tem que fazê-los interagir, é uma complicação. Eles têm dinâmicas diferentes.
De acordo com a direção do colégio, essa é uma tendência internacional, baseada em pesquisas que mostram que meninos e meninas têm respostas diferentes à aprendizagem. Além disso, a separação fortaleceria a identidade sexual:
- Separamos meninos e meninas pelo perfil que cada um apresenta, que é diferente. Se considerarmos que a escola é um local essencialmente [voltado] para a aprendizagem, estando separados os dois sexos, ela ocorre de maneira mais satisfatória. Também se vê, além do sucesso da aprendizagem, a consolidação da feminilidade e da masculinidade.
Este tipo de sistema é uma prática do século passado. Com o passar dos anos, a educação brasileira passou a adotar o ensino misto. E, para muita gente, como a especialista em educação Laura Monte Serrat Barbosa, voltar ao sistema antigo é um retrocesso:
- A gente aprende a diferença com a convivência com o diferente, e não na segregação.
O programa pedagógico ainda não foi aprovado pelo Conselho Estadual de Educação do Paraná, mas ela pode funcionar enquanto não recebe um parecer definitivo.

Referência: http://noticias.r7.com/vestibular-e-concursos/noticias/escola-infantil-separa-meninos-e-meninas-em-curitiba-pr-20100305.html

quinta-feira, 4 de março de 2010

Sexting


Esta semana vem sendo tratado pela novela Malhação da rede Globo de TV o tema Sexting, que há pouco tempo era muito desconhecido de nós. Sexting é quando um casal de namorados troca fotos sensuais um do outro via celular. Uma coisa comum de acontecer é que, quando o casal briga, a parte que se sentiu traída divulga as fotos sensuais do ex-namorado(a). O sexting tem se tornado uma prática comum entre os nossos alunos adolescentes.

Outros fatos

O "sexting" --fusão entre as palavras inglesas "sex" (sexo) e "texting" (mensagens enviadas pelo celular)-- foi um dos assuntos mais comentados no começo do ano, depois que estudantes em 12 estados norte-americanos foram acusados por produção e distribuição de pornografia infantil, depois de enviarem fotos seminuas para amigos e colegas de classe.

Em março, três adolescentes estiveram na mira do procurador-geral da Pensilvânia, que as acusou por distribuição de pornografia infantil, depois que uma professora descobriu autorretratos de seminudez.

No entanto, um juiz federal do Estado de Wyoming, nos EUA, suspendeu temporariamente as possíveis acusações criminais contra as três garotas adolescentes que enviaram autorretratos nus ou seminus pelo celular.

Outros casos de sexting também foram registrados.

Uma pesquisa, feita em 2008, apontou que 20% dos jovens norte-americanos dizem ter enviado, ou postado na internet, fotos de nudez total ou parcial de si próprios. Já 39% dizem ter enviado ou postado mensagens sexualmente sugestivas.

Segundo o site da Wikipédia, Sexting (contração de sex e texting) é um termo que refere-se a divulgação de conteúdos eróticos e sensuais através de telemóveis. Iniciou-se através das mensagens SMS de natureza sexual e com o avanço tecnológico tem-se aumentado o envio de fotografias e vídeo, aos quais aplica-se o mesmo termo, mesmo que texting se refira originalmente em inglês mensagens enviadas como texto. É uma prática cada vez mais comum entre jovens e adolescentes.

O Termo sexting pode ser etendido também pelo envio e divulgação de conteúdos eróticos, sensuais e sexuais com imagens pessoais pela internet utilizando-se de qualquer meio eletrônico, como câmeras fotográficas digitais, webcams, e smartphones.


Referências:

http://www.safernet.org.br/site/noticias/sexting-%C3%A9-menos-perigoso-para-jovens-que-brincar-m%C3%A9dico-diz-especialista

pt.wikipedia.org/wiki/Sexting


quarta-feira, 3 de março de 2010

Desrespeito em sala de aula...até quando?

Todos sabemos que a disciplina e boa educação andam juntos.
No mundo de hoje, onde o pai e a mãe trabalham para pagar contas, as crianças estão de certa forma "soltas"por falta de tempo. Infelizmente muitos pais delegam aos educadores esta tarefa. E o resultado está aí...
Sem generalizar, os educadores estão divididos em públicos e privados.
Os públicos são os "taxados" funcionários públicos. E assim se comportam e agem (sem generalizar...).
Os educadores particulares estão cerceados por considerações de ordem financeira. O garoto pode ser malcriado, mal educado, bagunceiro...mas é pagante ! Infelizmente pode tudo (de acordo com algumas normas dentro destas escolas...)
Assim, onde fica a educação e o respeito ao ser humano??
E quando se tenta corrigir a criança desobediente e bagunceira, a família comparece à escola e, naturalmente, justifica tais atitudes com desculpas irrelevantes e ainda culpa o professor ou a instituição de ensino.
Em vez de tentar contornar a situação com a criança, o problema se foca nos métodos do professor que muitas vezes paga o preço por uma falta de educação na casa do aluno (algo que deve se iniciar antes da fase escolar, ser educado deve vir desde o berço!!)
Infelizmente estamos perdendo muitos dos nossos ricos valores e nossas crianças estão crescendo sem saber que estes um dia existiram..

quinta-feira, 25 de fevereiro de 2010

Seu filho pode sofrer bullying escolar?


Presente nas escolas do país, saiba como detectar o problema e deixar seu filho longe da agressividade

Renata Losso, especial para iG São Paulo


Geralmente iniciado por crianças e adolescentes aparentemente mais seguros de si, que zombam de colegas mais frágeis e tímidos, o bullying escolar é um termo em inglês utilizado para denominar agressões físicas ou psicológicas que ocorrem de um aluno para outro, repetidas vezes e intencionalmente. Cada vez mais notado nas escolas brasileiras por professores e pais de alunos, o bullying pode afetar a vida das crianças a partir dos cinco anos de idade. E requer muita atenção.Geralmente, as vítimas do bullying são crianças mais quietas, pouco sociáveis e que não possuem muita habilidade para reagir a agressões. A fase mais recorrente do problema é a partir dos nove ou dez anos, quando a criança mais agressiva e praticante do bullying procura se reafirmar perante o grupo, adquirindo um status social de maior destaque. “O aluno que pratica Bullying costuma ser mais inseguro do que parece, mas se sente melhor diante da submissão do outro”, explica Luciana Blumenthal, psicoterapeuta da Clínica Multidisciplinar Elipse, em São Paulo. O que diferencia o bullying das brincadeiras e divergências normais entre crianças é que ele acontece repetidas vezes e não tem uma motivação clara. “Se tiver uma razão, por exemplo, como um colega revidar porque foi chamado de algo que não gostou, não é bullying”, explica Soraya Escorel, Promotora de Justiça de João Pessoa, na Paraíba, e organizadora do 1º Seminário Paraibano sobre bullying escolar, que aconteceu em 2008. No ano de 2002, a Associação Brasileira Multiprofissional de Proteção à Infância e à Adolescência (ABRAPIA), hoje extinta, realizou um programa de redução do comportamento agressivo entre estudantes de 11 escolas da cidade do Rio de Janeiro. De acordo com o levantamento realizado, entre 5.875 estudantes de 5ª à 8ª série do município, 40,5% admitiram já terem se envolvidos em caso de bullying, sendo 12,7% autores, 16,9% alvos, e 10,9% em ambos. O médico pediatra Lauro Monteiro Filho, idealizador da ABRAPIA e atual editor do Observatório da Infância, afirma que o bullying atualmente existe em muitos lugares e deve ser prevenido por todos os envolvidos. “Além de a escola ter o dever de se comprometer com o problema, porque senão não há uma solução real, é necessária uma participação da família do agressor e do agredido”, afirma o especialista. Agressão virtualCom o desenvolvimento da tecnologia, atualmente o bullying tomou também proporções virtuais. De acordo com estudo realizado por Ann Frisén, professora de psicologia da Universidade de Gotemburgo, na Suécia, cerca de 10% de todos os adolescentes, entre 12 e 15 anos, são vítimas do cyberbullying. Neste caso, o problema pode se tornar ainda mais sério. As vítimas deste tipo de agressão não possuem escapatória. Quando o bullying acontece de maneira mais convencional, segundo a especialista, os alvos podem ser deixados em paz nos momentos em que estão fora da escola, como nos finais de semana e feriados. “Porém, no caso do cyberbullying, as vítimas podem ser agredidas por meio de SMS e websites, tornando ainda mais difícil de identificar o agressor”, explica Frisén. Por que o bullying acontece? Segundo Cleo Fante, educadora e autora do livro “Fenômeno Bullying: Como prevenir a violência nas escolas e educar para a paz” (Verus Editora), o bullying pode surgir por diferentes motivos: carência afetiva, ausência de limites, práticas de maus-tratos em casa, entre outros. E as consequências destes fatores, tanto para o agressor como para a vítima, podem ser gravíssimas. “As vítimas deste fenômeno podem sofrer desinteresse pela escola, déficit de concentração e aprendizagem, queda do rendimento, absentismo e evasão escolar, além de baixa na auto-estima, estresse, transtornos psicológicos, depressão e suicídio”, escreve a especialista. Já os agressores acabam se distanciando dos objetivos escolares, passam a supervalorizar a violência e projetam esta postura para a vida adulta. O que fazer se seu filho sofre ou pratica bullying? Os sinais dados pelos envolvidos com o bullying são vários, principalmente entre as vítimas da agressão. Veja abaixo uma série de sintomas que podem ser notados e descubra como agir para evitar que as proporções do problema aumentem. Crianças que são alvos de bullyingComeçam a evitar a escola e inventam desculpas para não ir, podem dizer que não estão se sentindo bem, por exemplo Costumam evitar situações sociais e fogem de qualquer outro acontecimento escolar que não seja obrigatóriaContam os dias que faltam para as aulas terminarem Se ele sofre na escola, pode colocar todo o sofrimento para fora em casa, se mostrando extremamente irritado com os pais e irmãosPede para trocar de escola constantementeApresenta um rendimento escolar mais baixo do que o observado anteriormente Crianças que são agressores Mesmo que pareçam muito bem e seguros, os agressores fazem comentários com soberba, colocando alguém como inferior, desvalorizando o próximo para se sentir melhorÉ uma criança ou adolescente mais irônico, que faz piadas dos outros, muitas vezes por estar inseguro com si mesmo
O que fazer? Se uma criança está sofrendo ou praticando bullying, é preciso reportar o assunto à escola para tratar o caso de uma maneira ampla – pais, alvo, agressor e orientadores pedagógicos. É importante que a escola não admita este tipo de comportamento e o trate como um assunto sério. Além disso, é essencial que o diálogo seja sempre mantido integralmente entre pais e filhos. Com um bom canal de comunicação, as crianças podem se abrir e tornar a resolução do problema mais fácil. Para Blumenthal, buscar a ajuda de um profissional da área terapêutica pode ajudar a criança agredida a se sentir melhor diante dos colegas. Caso o bullying vire de fato uma ameaça à integridade física e moral da criança, a Promotora Soraya Escorel indica que o caso seja denunciado à Vara da Infância e Juventude mais próxima.


quarta-feira, 24 de fevereiro de 2010

A escola inclusiva e a diversidade


Embora não seja a Escola o único lugar onde acontece a educação, na sociedade atual a educação Escolar crescentemente se faz indispensável para a cidadania autônoma e competente. Constitui-se a Escola em espaço especialmente organizado para que se dê a construção de valores, conhecimentos e habilidades necessárias ao pleno, consciente e responsável exercício da democracia.

Estrutura-se a Escola através dos sujeitos que dela fazem parte e das relações que estabelecem entre si e com o meio. Nestas relações aparece a singularidade de cada sujeito, a sua cultura, o seu ponto de vista, a sua leitura de mundo, que comunicados aos outros, contribuem para a construção de conhecimentos reelaborados.

Na qualidade de espaço instituído pela esfera política e mediatizado pelo Estado, pela família e a sociedade, a Escola por integrar um amplo e complexo sistema social que não é neutro, pois se compõem de grupos diversos e por vezes divergentes, sofre intervenção dessas esferas, não sendo também ela uma instituição neutra, isolada, uma vez que representa os interesses da sociedade como construção histórica.

A Escola é a instituição responsável pela passagem da vida particular e familiar para o domínio público, tendo assim função social reguladora e formativa para os alunos.

Acima de tudo, a Escola tem a tarefa de ensinar os alunos a compartilhar o saber, os sentidos diferentes das coisas, as emoções, a discutir, a trocar pontos de vista. É na Escola que desenvolvemos o espírito crítico, a observação e o reconhecimento do outro em todas as suas dimensões.

Entretanto, ao analisar a realidade das nossas Escolas, percebo que a mesmas estão preparadas para receber um aluno idealizado. Tem um projeto educacional elitista, meritocrático e homogeneizado, o que faz com que ela venha produzindo situações de exclusão que, injustamente, prejudicam a trajetória educacional de muitos estudantes, pois certamente um aluno diferenciado, ao ingressar nessa estrutura, será excluído, parecendo esse movimento ser próprio à estrutura e ao funcionamento da Escola. Esta privilegia determinados conhecimentos e comportamentos, negando a diversidade, e esforçando-se para codificar a produção social a partir de certos valores. Parece que a Escola e sua comunidade não estão preparadas para acolher um aluno mais diferenciado, podendo acontecer de, no ensino regular, a inclusão, por força de lei, pode ser mais desastrosa do que se possa prever.

Os sistemas Escolares também montados a partir de um pensamento que recorta a realidade, que permite dividir os alunos em normais e deficientes, as modalidades de ensino em regular e especial, os professores em especialistas nesta e naquela manifestação das diferenças. A lógica dessa organização é marcada por uma visão determinista e formalista, própria do pensamento científico moderno, que ignora o subjetivo, o afetivo, o criador. Sem os quais não conseguimos romper com o velho modelo Escolar para produzir a reviravolta que a inclusão impõe.

Pode-se dizer que as causas fundamentais que têm promovido o aparecimento da inclusão são de dois tipos: por um lado, o reconhecimento da educação como um direito, e, por outro, a consideração da diversidade como um valor educativo essencial para a transformação das Escolas.

É importante considerar e compreender que a sociedade atual é a sociedade do estereótipo, das crenças prévias. A partir de imagens estereotipadas, cultiva-se a crença de que existe um saber universal, que se coloca como um produto acabado a ser seguido por todos, produzindo preconceitos do que se acredita que os sujeitos devam ser. Porém, o saber ali apresentado é um produto externo aos sujeitos, tornando-se inconsistente, uma vez que não fala de sua realidade. Acaba emergindo um saber que se transforma em preconceitos, gerando, gradativamente, discriminação e tratamento desigual dos sujeitos.

Vale ressaltar que o que de fato vem sendo excluído da sociedade é justamente a diferença, a singularidade, as exceções. O que se espera de todos é a semelhança, o grupo, a padronização. A diversidade cultural constitui um problema para a convivência humana, pois, por meio dos “ideais” sociais, que são difundidos e assimilados por todos, são determinados os modelos, de acordo com os quais o sujeito deve agir. Temos consciência de que a sociedade possui uma visão de homem padronizada e classifica as pessoas de acordo com essa visão. Elegemos um padrão de normalidade e nos esquecemos de que a sociedade se compõe de homens diversos, que ela se constitui na diversidade, assumindo de um outro modo as diferenças. Este deve ser um trabalho necessário, o de mudar a imagem que a sociedade tem das pessoas especiais e rever esta exigência de que todos devem ser iguais e seguirem padrões e normas para demonstrarem essa igualdade.

Muito freqüentemente, as diferenças entre alunos são vistas como um problema. Muitas pessoas acreditam que as diferenças dos alunos em relação a ajustes educacionais são dificuldades que necessitam ser trabalhadas, melhoradas ou os alunos precisam estar “prontos” (homogeneizados) para se encaixarem em uma situação de aprendizagem. Essa visão pode ser um grande inconveniente, prejudicando, assim, o processo de aprendizagem nas salas de aula que tentam promover valores e oportunidades de aprendizagem inclusivas para todos os alunos.

Para que a inclusão seja bem sucedida, as diferenças dos alunos devem ser reconhecidas como um recurso positivo. As diferenças entre os alunos devem ser reconhecidas e capitalizadas para fornecer oportunidades de aprendizagem para todos os alunos da classe.

A educação inclusiva é um meio privilegiado para alcançar a inclusão social, algo que não deve ser alheio aos governos e estes devem dedicar os recursos econômicos necessários para estabelecê-la. Mais ainda, a inclusão não se refere somente ao terreno educativo, mas o verdadeiro significado de ser incluído. Está implícita na inclusão social, a participação no mercado de trabalho competitivo, sendo este o fim último da inclusão.

Sendo assim, a educação inclusiva não é tarefa somente da Escola, ela deve caminhar junto com a construção de uma sociedade inclusiva, pois a instituição Escolar precisa estar relacionada ao sistema social, político e econômico vigente na sociedade. A educação inclusiva implica na implementação de políticas públicas, na compreensão da inclusão como processo que não se restringe à relação professor-aluno, mas que seja concebido como um princípio de educação para todos e valorização das diferenças, que envolve toda a comunidade Escolar.

A inclusão é percebida como um processo de ampliação da circulação social que produz uma aproximação dos seus diversos protagonistas, convocando-os à construção cotidiana de uma sociedade que ofereça oportunidades variadas a todos os seus cidadãos e possibilidades criativas a todas as suas diferenças.

Para uma Escola tornar-se inclusiva, ou seja, uma instituição que, além de aberta para trabalhar com todos os alunos, incentiva a aprendizagem e a participação ativa de todos, faz-se necessário um investimento sistemático, efetivo, envolvendo a comunidade Escolar como um todo. Para isso efetuar-se de maneira satisfatória, é ainda necessário que a Escola tenha estímulo e autonomia na elaboração de seu projeto pedagógico, que possa elaborar um currículo Escolar que reflita o meio social e cultural onde os alunos estão inseridos; que tenha a aprendizagem como eixo central em suas atividades Escolares e que reconheça o enriquecimento advindo da diversidade.

Referência: http://www.soprando.net/estudantes/a-escola-inclusiva-e-a-diversidade

sexta-feira, 19 de fevereiro de 2010

O PRECONCEITO RACIAL E SUAS REPERCUSSÕES NA INSTITUIÇÃO ESCOLA


A sociedade brasileira caracteriza-se por uma pluralidade étnica, sendo esta produto de um processo histórico que inseriu num mesmo cenário três grupos distintos: portugueses, índios e negros de origem africana. Esse contato favoreceu o intercurso dessas culturas, levando à construção de um país inegavelmente miscigenado, multifacetado, ou seja, uma unicidade marcada pelo antagonismo e pela imprevisibilidade.
Apesar do intercurso cultural descrito acima, esse contato desencadeou alguns desencontros. As diferenças se acentuaram, levando à formação de uma hierarquia de classes que deixava evidentes a distância e o prestígio social entre colonizadores e colonos. Os índios e, em especial, os negros permaneceram em situação de desigualdade situando-se na marginalidade e exclusão social, sendo esta última compreendida por uma relação assimétrica em dimensões múltiplas – econômica, política, cultural. Sem a assistência devida dos órgãos responsáveis, os sujeitos tornam -se alheios ao exercício da cidadania.
Esse acontecimento inicial parece ter de algum modo subsistido, contribuindo para o quadro situacional do negro. O seu cotidiano coloca-o frente à vivência de circunstâncias como preconceito, descrédito, evidenciando a sua difícil inclusão social. Sendo assim, busca-se por meio deste trabalho compreender como são construídas as relações raciais num dos espaços da superestrutura social do país, que é a escola, e como ela contribui para a formação da identidade das crianças negras.
O estudo da interface racismo e educação oferece uma possibilidade de colocar num mesmo cenário a problematização de duas temáticas de inquestionável importância. Ao contemplarmos as relações raciais dentro do espaço escolar, questionamo-nos até que ponto ele está sendo coerente com a sua função social quando se propõe a ser um espaço que preserva a diversidade cultural, responsável pela promoção da eqüidade. Sendo assim, aguardamos mecanismos que devam possibilitar um aprendizado mais sistematizado favorecendo a ascensão profissional e pessoal de todos os que usufruem os seus serviços.
A escola é responsável pelo processo de socialização infantil no qual se estabelecem relações com crianças de diferentes núcleos familiares. Esse contato diversificado poderá fazer da escola o primeiro espaço de vivência das tensões raciais. A relação estabelecida entre crianças brancas e negras numa sala de aula pode acontecer de modo tenso, ou seja, segregando, excluindo, possibilitando que a criança negra adote em alguns momentos uma postura introvertida, por medo de ser rejeitada ou ridicularizada pelo seu grupo social. O discurso do opressor pode ser incorporado por algumas crianças de modo maciço, passando então a se reconhecer dentro dele: "feia, preta, fedorenta, cabelo duro", iniciando o processo de desvalorização de seus atributos individuais, que interferem na construção da sua identidade de criança.
A exclusão simbólica, que poderá ser manifestada pelo discurso do outro, parece tomar forma a partir da observação do cotidiano escolar. Este poderá ser uma via de disseminação do preconceito por meio da linguagem, na qual estão contidos termos pejorativos que em geral desvalorizam a imagem do negro.
O cotidiano escolar pode demonstrar a (re) apresentação de imagens caricatas de crianças negras em cartazes ou textos didáticos, assim como os métodos e currículos aplicados, que parecem em parte atender ao padrão dominante, já que neles percebemos a falta de visibilidade e reconhecimento dos conteúdos que envolvem a questão negra.
Essas mensagens ideológicas tomam uma dimensão mais agravante ao pensarmos em quem são seus receptores. São crianças em processo de desenvolvimento emocional, cognitivo e social, que podem incorporar mais facilmente as mensagens com conteúdos discriminatórios que permeiam as relações sociais, aos quais passam a atender os interesses da ideologia dominante, que objetiva consolidar a suposta inferioridade de determinados grupos. Dessa forma, compreendemos que a escola tanto pode ser um espaço de disseminação quanto um meio eficaz de prevenção e diminuição do preconceito
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Referência: Menezes, Valéria. agosto/ 2002. Disponível em/: http://www.fundaj.gov.br/tpd/147.html

quinta-feira, 18 de fevereiro de 2010

Diversidade Cultural


A diversidade cultural engloba as diferenças culturais que existem entre as pessoas, como a linguagem, danças, vestuário e tradições, bem como a forma como as sociedades organizam-se conforme a sua concepção de moral e de religião, a forma como eles interagem com o ambiente etc.
O termo diversidade diz respeito à variedade e convivência de idéias, características ou elementos diferentes entre si, em determinado assunto, situação ou ambiente. Cultura (do latim cultura, cultivar o solo, cuidar) é um termo com várias acepções, em diferentes níveis de profundidade e diferente especificidade. São práticas e ações sociais que seguem um padrão determinado no espaço/tempo. Se refere a crenças, comportamentos, valores, instituições, regras morais que permeiam e "preenchem" a sociedade. Explica e dá sentido a cosmologia social, é a identidade própria de um grupo humano em um território e num determinado período.


Conceito Principal

A idéia de diversidade está ligada aos conceitos de pluralidade, multiplicidade, diferentes ângulos de visão ou de abordagem, heterogeneidade e variedade. E, muitas vezes, também, pode ser encontrada na comunhão de contrários, na intersecção de diferenças, ou ainda, na tolerância mútua. A diversidade cultural é complicada de quantificar, mas uma boa indicação é pensar em uma contagem do número de línguas faladas em uma região ou no mundo como um todo. Através desta medida, há sinais de que podemos estar atravessando um período de declínio precipitado na diversidade cultural do mundo. Pesquisa realizada na década de 1990 por David Crystal (Professor Honorário de Linguística na University of Wales, Bangor) sugeriu que naquela época em média, uma língua caía em desuso a cada duas semanas. Ele calculou que se a taxa de mortalidade de línguas continuasse até o ano 2100, mais de 90% dos estilos falados atualmente no mundo serão extintos.


A origem da Diversidade Cultural

Há um consenso geral entre os principais antropólogos que o primeiro homem surgiu na Europa, há cerca de dois milhões de anos atrás. Desde então, temos nos espalhados por todo o mundo, com sucesso em nos adaptarmos às diferentes condições, como por exemplo, as mudanças climáticas. As muitas sociedades que surgiram separadas por todo o globo diferiam sensivelmente umas das outras, e muitas dessas diferenças persistem até hoje.
Bem como os mais evidentes as diferenças culturais que existem entre os povos, como a língua, vestimenta e tradições, também existem variações significativas na forma como as sociedades organizam-se na sua concepção partilhada da moralidade e na maneira como interagem no seu ambiente. Joe Nelson, de Stafford Virginia, tem popularizado a expressão "Cultura e diversidade", enquanto na África. É discutível se essas diferenças são apenas artefatos decorrentes de padrões de migração humana ou se elas representam uma característica evolutiva que é fundamental para o nosso sucesso como uma espécie. Por analogia com a bio, que é considerada essencial para a sobrevivência a longo prazo da vida na Terra. É possível argumentar que a diversidade cultural pode ser vital para a sobrevivência a longo prazo da humanidade e que a preservação das culturas indígenas pode ser tão importante para a humanidade como a conservação das espécies e do ecossistemas para a vida em geral.
Este argumento é rejeitado por muitas pessoas, por várias razões:
Em primeiro lugar, como a maioria das questões evolutivas da natureza humana, a importância da diversidade cultural para a sobrevivência pode ser uma hipótese impossível de testar, que não podem ser provadas nem refutadas.
Em segundo lugar, é possível argumentar que é antiético conservar deliberadamente sociedades "menos desenvolvidos", pois isso irá negar às pessoas dentro dessas sociedades os benefícios de avanços tecnológicos e médicos desfrutado por aqueles no mundo "desenvolvido".
Finalmente, há muitas pessoas, especialmente aquelas com fortes convicções religiosas, que afirmam que é do interesse dos indivíduos e da humanidade como um todo, que todos respeitem o único modelo de sociedade que eles considerem correcto. Por exemplo, organizações missionárias evangelistas fundamentalistas como a Missão Novas Tribos do Brasil trabalham ativamente para reduzir a diversidade cultural, procurando remotas sociedades tribais, convertendo-as à sua própria fé, e induzindo-os a remodelação de sua sociedade de acordo com os seus princípios.