quinta-feira, 25 de março de 2010

SER DIFERENTE TORNOU-SE VANTAGEM

por Reinaldo S. Bulgarelli

Falando sobre o exemplo de mulher que pode ser afro, mãe, etc, imagine que em cada um dos lugares onde estamos presentes, por mais reduzida que seja nossa vida social, somos essa “variedade de variações” e convivemos com pessoas que têm as suas inúmeras variedades também. É isso que é a diversidade humana e cultural e é isso que as empresas e outras organizações sociais estão descobrindo cada vez mais como um valor bastante positivo. O valor de sermos diferentes e estarmos vivendo juntos sob o manto das regras de civilidade, regras democráticas estabelecidas para que possamos cumprir com nossos compromissos, no espaço privado ou público, realizar nossos projetos pessoais ou coletivos de felicidade.
A empresa moderna, sobretudo, está percebendo que a melhor forma de sobreviver e se perpetuar, numa sociedade em que as mudanças estão cada vez mais rápidas, é sendo flexível, criativa, aberta ao novo, proativa, inovadora, conseguindo enxergar e sendo vista por diferentes segmentos ou grupos com os quais mantém relações e que são parte interessada no negócio: seus colaboradores, fornecedores, acionistas, clientes, concorrentes, a comunidade, o poder público e a sociedade em geral.
Uma empresa que discrimina portadores de deficiência física, por exemplo, pode estar perdendo um excelente funcionário para uma concorrente, um grande cliente, um bom negócio ou a sua valiosa imagem diante da sociedade, que despreza cada vez mais quem discrimina negativamente, gera exclusão e apartação.
Valorizar a diversidade, além de ser uma atitude corporativa das melhores, é também uma necessidade e, por conseqüência, um bom negócio. Valor é aquilo que pesa na hora de tomarmos uma decisão, aquilo que tem significado e, por isso mesmo, torna-se uma prática, uma ação, uma atitude concreta a favor de algo e contra algo. Como a diversidade é um valor, há empresas aqui e no mundo que estão promovendo a diversidade em todas essas relações, buscando uma maneira de realizar os seus negócios de um jeito que respeite e até incentive as diferenças, fazendo com que elas concorram para melhorar os resultados, a relação com a sociedade e a própria vida em sociedade.
Há empresas que estão buscando contratar colaboradores e fornecedores de fontes variadas. Há outras que até procuram investir numa educação de melhor qualidade para aqueles segmentos discriminados, para que possam integrar o mercado de trabalho de uma maneira mais “empoderada”, rompendo com a exclusão em que estão inseridos. Há empresas que estão colocando pessoas de outros segmentos (além do “padrão dominante”) nas suas peças publicitárias e de comunicação em geral, ajudando a tirar essas pessoas daqueles lugares determinados em que estão aprisionadas: mulheres comprando carros, homens lavando louça, mulheres negras comprando roupas de grife, portadores de deficiência em práticas esportivas e assim por diante.
Não estranhe se a sua diferença, aquilo que você esconde ou procura diluir numa série de outros atributos que você tem, for “pinçada” por uma dessas empresas afinadas com a Era do Conhecimento e com os desafios do nosso tempo. Se você for convidado para trabalhar e progredir numa dessas empresas, não será por conta da sua semelhança com todos os outros, principalmente do “padrão dominante”. Sentir-se diverso, saber-se assim e assim reconhecer-se e apresentar-se, mesmo sendo membro do grupo dominante, é fundamental para ir além daquilo que já está estabelecido. Saber ser o que é e acolher os outros, dentro do horizonte ético dos direitos humanos, das leis que emancipam e dão espaço para todos, faz com que a diferença faça a diferença. As pessoas estão sendo respeitadas e acolhidas nestes ambientes exatamente por conta da sua diferença, desde que elas realmente façam a diferença. Uma diferença que é apenas superficial, não faz a diferença, mas aquela que é valorizada, considerada pela própria pessoa, que produz idéias sobre si mesma e sobre o mundo de maneira inovadora em relação ao padrão, pode contribuir melhor para a construção de um mix criativo, sinérgico e que ajuda a todos no enfrentamento dos desafios da vida no plano individual e coletivo.
Portanto, não tema e seja você mesmo, valorize você também aquilo que o torna especial e único. Mais do que a sua cor de pele ou a sua orientação sexual (ou as duas características juntas numa só pessoa) é a sua bagagem, a sua experiência, o olhar peculiar que você possui que está sendo valorizado para construir, a partir das diferenças respeitadas e incentivadas, acolhidas e garantidas, um mix que gera essa sinergia e promove o seu sucesso, o sucesso dos negócios e uma sociedade, enfim, bem-sucedida.
A diversidade como valor fortalece e se fortalece com o movimento de responsabilidade social corporativa porque, além de tudo, está identificada com os interesses legítimos da sociedade e contribui para a superação de desigualdades intoleráveis geradas pela discriminação arbitrária, sem justificativa, injustas, portanto. As discriminações positivas, ou seja, aquelas que ajudam a corrigir as desigualdades históricas e persistentes que todos construímos (herdando ou mantendo), são bem-vindas num ambiente que valoriza a diversidade.
Se a empresa tem uma vaga de gerência, todas as outras foram ocupadas por homens e estão concorrendo homens e mulheres em iguais condições de terem o posto (mérito, capacidade e talento), por que não discriminar positivamente uma mulher para o cargo? A empresa precisa também do olhar feminino e as mulheres agradecem essa distinção, caso contrário, se deixar o barco correr ao sabor dos padrões dominantes e dos estereótipos, sabe quando as mulheres, os negros, os idosos, os jovens, as pessoas portadoras de deficiência, os gays estarão nos lugares onde hoje ainda não os vemos com freqüência? Nunca!
Se você é chefe, cuidado para não perder talentos ou impedir que esses talentos se desenvolvam por conta dos seus preconceitos. Se você é subordinado de alguém que pertence a um grupo que geralmente não está em posição de chefia, por ser gay, negro, mulher, deficiente, mais jovem que você, mais velho que seu avô, com um sotaque diferente do seu, com uma experiência de vida diferente da sua, com outra religião ou forma de professar sua fé, cuidado para não deixar de aproveitar a convivência com alguém diferente de você, numa relação que pode ser de complementaridade e não de competição, como estamos acostumados ou como somos geralmente induzidos a assim agir por uma lógica que não é mais a de uma empresa moderna.
Se seu colega é diferente de você ou dos padrões que você acha “normais”, interaja, não deixe de ser o que você é e nem o obrigue a ser como você, sabendo que estamos todos construindo um novo tempo, num diálogo democrático que pode mudar nosso país e o mundo. Não somos tão pobres assim, como dizem alguns, mas injustos. A lógica da inclusão, em todos os campos, principalmente no trabalho, pode alterar o mapa de desigualdades raciais, de gênero e sociais que temos produzido. Para isso, precisamos mudar os nossos próprios mapas mentais que determinam a forma como todos nós nos vemos e vemos aos outros, interpretamos o nosso passado, lidamos com o nosso presente e projetamos o nosso futuro.
Diversos somos nós todos e todos somos responsáveis por promover a diversidade como valor em nossas vidas e em todos os lugares onde estamos ou onde pretendemos chegar um dia. Seja você também uma pessoa, um profissional, um cidadão que valoriza a diversidade, lutando pelo seu espaço ou compreendendo, aceitando e incentivando que outros, apesar das muitas qualidades que você possui, também tenham a chance de estar em lugares onde a sociedade não costuma lhes dar a oportunidade de ocuparem.
Essas pessoas não chegarão lá porque são diferentes apenas, mas porque também têm mérito, também têm qualidades que, em geral, não são reconhecidas. É verdade que ter mérito é fundamental para estar em determinados lugares, mas também é verdade que a concepção de mérito, os critérios com os quais analisamos os tais méritos estão profundamente ligados ao padrão dominante assim dado e imposto a todos nós, oferecendo farto material subjetivo para a inclusão ou exclusão das pessoas.
Todos temos o direito de sermos felizes e todos podemos fazer a diferença na vida da empresa, na nossa própria vida, na vida em sociedade, no diálogo entre as civilizações. Aproveitemos os novos tempos!


Referencia: http://www.unicrio.org.br/Textos/dialogo/reinaldo_s_bulgarelli.htm

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